O grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald

Veio através de troca, edição da Abril Cultural, 1980, 221 páginas.

Então. A história é simples. Nick observa o vizinho apaixonado (Gatsby) tentando retomar um romance da juventude interrompido pela guerra.  Só que a namoradinha da adolescência é hoje casada e tem uma filha.

É um bom livro, mas fui ler a contra-capa pra ter ideias pra resenha e eles são bem exagerados. Vou comentar a partir dela, em itálico:
"O mundo febril da "geração perdida" da época posterior à Primeira Guerra Mundial."
Febril? Menos, bem menos... povo só quer aproveitar e tal, mas febril é coisa de entrar de corpo e alma... a hipocrisia da época não deixava ninguém ser "febril". Tem alguns momentos "febris" no livro, o sr. e a sra. Wilson, o narrador Nick e próprio Gatsby se entregam mais às emoções. Mas como um todo, não achei nem a "geração perdida" nem o "mundo febril" aí. Culpa dos beatniks e dos anos 60, provavelmente. Aquilo sim é que foi febre e perdição.
"Uma trama densa, cheia de paixões, conflitos, intrigas, na "era do jazz".
Também não vi toda essa densidade. O enredo é caprichado, a história é fluida e bem narrada, não exige do leitor (a não ser pelo mistério do elevador, claro). E as paixões ficam com os mesmos personagens febris... nem todo mundo se deixa levar. Conflitos e intrigas, sim, muitos. Tanta fofoca que é uma novela das 8 perfeita.
"A história de Jay Gatsby e sua dramática ânsia de ascensão social."
Pobre Gatsby. Pobre mesmo.
"A falta de sentimentos, a violência e o materialismo das metrópoles do leste norte-americano."
Sim, agora sim, o livro é sobre isso aí, exatamente. Então vejam... como uma "falta de sentimentos" pode ser febril? Como são mal escritas essas contracapas...
"O desespero de personagens oprimidos pela existência rotineira, buscando a fuga pelo rompimento de velhas convenções sociais e correndo de encontro a um grande vazio."
De novo, o desespero é só dos quatro apaixonados febris. Mas o único que quer romper as convenções é o Gatsby. E o "grande vazio" é onde a maioria dos personagens estão, muito bem acomodados. Quem está correndo, está tentando sair do vazio, quer ir para longe dele.

Mesmo o Nick segue uma certa convenção até o fim. Ele é o grande amigo, aquele que abandona a vergonha para ficar do lado das pessoas queridas que se metem em enrascadas por não controlar a paixão e os sentimentos. Nick está lá. Firme. Ele gosta de Gatsby mais do que ele mesmo percebe, talvez. Ou só não quis contar pra gente, mas aí é da intimidade dele. A amizade, o calor e a visão do Nick fazem a gente continuar a ler o livro, no meio de tanta gente insensível e chata. Ou quase-tolos, como o Gatsby parece ser às vezes.

O clima geral de "O grande Gatsby" me lembrou um pouco o que eu sentia pelo povo frio, indie e blasé em contraste com o calor dos  punk roquers meio loucos e apaixonados nos meus momentos de "geração perdida". Todo mundo já foi o Gatsby de algum Nick ou o Nick de algum Gastby.

Lá embaixo, após os links, tem um infográfico bem legal, com spoiler do fim do livro, que une os personagens importantes. Aliás, ô livrinho pra ter capa feia, hein? Procurei até em francês e espanhol, nada me agradou.

Três estrelinhas. Em cinco.

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Outras resenhas:

- O céu dos suicidas, Ricardo Lísias
- O caderno vermelho, Paul Auster
- Marcas na parede, organização de Hanna Liis-Baxter
Noite e Dia, Virginia Woolf;
A melhor HQ de 1980;
Água para elefantes, Sara Gruen;
Buracos, Louis Sachar;
Preconceito Linguístico, Marcos Bagno;
O livro do contador de histórias chinês, Michael David Kwan
Oriente. Ocidente, Salman Rushdie
A jogadora de go, Shan Sa
Unhas, Paulo Wainberg
- A mulher do viajante no tempo, Audrey Niffenegger
Pinóquio, adaptação de Guilhaume Frolet
Clara dos Anjos, Lima Barreto
O rapto das cebolinhas, Maria Clara Machado
Cozinheiros Demais, Rex Stout


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