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Como poderia ter sido se não fosse como foi

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- Eu mato esse bugre maldito! - berrou seu Floriano, pegando na espingarda. - Porco! Filha da puta! Ele não leva minha filha! - Calma, homem, pelo amor de Deus! - dona Carmem, desesperada, segurava o marido. -Vai acabar acertando os dois e ainda mata nossa filha! Seu Floriano se soltou da mulher e correu para os fundos da casa, de onde ainda podia ver os amantes em fuga, ao alcance de um tiro. - Desgraçado! - Não homem, não faça isso! Na frente da casa, os homens da vizinhança apeavam. Quando o piá deu a notícia, na cancha de bocha, seu Floriano sumiu tão rápido que nem se ouviu o cavalo trotar. Uns para evitar tragédia, outros de curiosos, mas a maioria querendo “ver bugre levar fumo”, seguiram para a fazenda. E chegaram bem na hora da bala. -- Bam! Dona Carmem rezava de olhos fechados. Mas os gritos que ouviu não eram os que esperava... parecia... "o pato?" Mas coragem de olhar, só teve quando ouviu as risadas da homarada. Seu Floriano havia acertado o pato de estimaç

Eu era uma groupie juvenil

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"Se o mundo é mesmo Parecido com o que vejo Prefiro acreditar No mundo do meu jeito" Legião Urbana, "Eu era um lobisomem juvenil" Nasci no final dos anos 70. E tive a sorte cabalística de crescer durante a melhor fase do rock nacional. Na TV tocava Titãs, Paralamas, RPM, Cazuza, Uns e outros. Na rádio, no interior do Paraná, escutávamos além deles e do Legião, os gaúchos, na Atlântida. Nenhum de Nós, Engenheiros do Havaí. Eu ouvia e via aqueles caras cantando tão bonito e tão despretensiosamente, como se estivessem só conversando com a gente, sem aqueles malabarismos vocais exagerados da música sertaneja. O ritmo sempre me fez pular da cadeira e dançar até cair. Até hoje. As letras falavam de uma liberdade que eu queria pegar com a mão. Mesmo que trouxesse alguns machucados, alguma tristeza, alguma solidão. Deixar tudo de lado para seguir o que eu queria era sensato demais. O que eu queria era rock. E como eu não conhecia bandas e cantoras femininas, rock pra mim er

Quem inventou que sexo é sujo queria controlar a sexualidade das mulheres

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Quem inventou que sexo é sujo e deve ser evitado queria controlar a sexualidade das mulheres. Sexo só é “sujo” para nós. Se for entre mulheres então, é um horror, um absurdo, uma anomalia. "Eu prefiro que minha filha seja canibal, mas não seja lésbica!" Quem inventou que sexo é sujo queria controlar as mulheres. Os homens fazem sexo quando bem entendem e com quem bem entendem... basta pagar. E isso não significa que seja preciso muito dinheiro, sempre haverá uma mulher (ou uma criança) disponível para seu bolso. Já as mulheres que fazem sexo quando bem entendem são julgadas e condenadas pela família, pelas outras mulheres, pela sociedade inteira. Nos foi ensinado que tesão não é amor, que sexo não é diálogo, que prostituta não é gente. Ensinaram pra gente que sexo não é interação, é uma coisa que o homem pratica no corpo da mulher. Então as mulheres foram ensinadas a ver as putas como as "outras", as coisas. "Boa mesmo é a mulher que não faz sexo, que não tem

Mães não ouvem rock

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( publicado originalmente em 2013, no coletivo Rocka, blog feminista sobre rock n roll que infelizmente acabou) Em 2009, na gravidez do meu primeiro filho, perdi todas as minhas camisetas de banda. Nunca voltei ao tamanho delas e doei tudo. Tava me sentindo outra pessoa, mais séria, menos eu, não sei explicar. Ninguém mais puxou o assunto “rock” comigo, só conhecidos virtuais me mandando músicas e apresentando bandas. Aqui na vida real, nada de nada. Eu tava triste. Não tinha percebido muito bem o que tava faltando. Michelle Pfeiffer e Saoirse Ronan em cena do filme "Nunca é tarde para amar", de 2007 Mas então, nas férias, assisti “Nunca é tarde para amar” (I Could Never Be Your Woman), com a Michelle Pfeiffer. Um romancinho água com açúcar, mas com cenas muito fofas de mãe e filha ouvindo e fazendo rock. Izzie, interpretada pela Saoirse Ronan, está treinando uma paródia da música “Ironic” de Alanis Morissette e a mãe dá dicas. Não lembro bem como foi, mas diva Michelle disse

Sim, o Projeto de Lei Gabriela Leite quer legalizar cafetinagem!

Importante: esse texto não é contra a regulamentação da prostituição, é contra a regulamentação da cafetinagem.  Leis são complicadas. Por isso esse texto ficou tão grande. Mas devagarinho a gente divide as leis, analisa parte por parte e vê o que está por trás da coisa. Eu não sou formada em Direito, nem Constitucional nem Penal, nem nada. Sou uma simples pessoa que não quer ver mulheres sendo exploradas sexualmente. E uma pessoa que acredita que se apropriar do cachê das prostitutas deve continuar sendo crime no Brasil e em qualquer lugar do mundo em que ele ainda seja. Não quero ver mulher submetendo sua sexualidade ao lucro do cafetão ou da cafetina. Se ela decidiu sobreviver cobrando por sexo, que o lucro seja todo dela.  Minha opinião é embasada na ideia de que o corpo, a vontade e o consentimento são da pessoa. Da mulher ou do homem em situação de prostituição. Se elas e eles tem a vontade ou a necessidade de trabalhar oferecendo o corpo para o prazer alheio, todo o dinhe

Mãe é mãe, só muda... o endereço, o humor, a vontade, a carreira, o apego, o método, o tempero, o...

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isso QUANDO forem 6 meses, hummm??? Há algum tempo eu estou juntando feminismo com maternidade e conversando com as mães que eu conheço sobre as dificuldades, as opressões, as barreiras, os enfrentamentos e as crianças delas. E nenhuma dessas mães é igual à outra não, pelo contrário. Apesar de termos dificuldades parecidas, cada uma tem uma forma de lidar com elas, uma forma de ver o mundo, um jeito diferente de cuidar e educar suas crianças. Nós mães somos iguais apenas para o mundo lá fora. O que não muda é o julgamento alheio: esse, tá sempre com a gente. O número de sites sobre maternidade cresceu muito nos últimos tempos e a gente vê a mesma variedade. É muito bonito que as mães tenham espaço para se expressar livremente... mas eu queria mais, queria que as mães fossem ouvidas por todos. Queria que o público dos sites fosse de todo tipo de gente e não majoritariamente de mães. Queria que todos se interessassem pelo futuro das crianças e pela emancipação e valorização das

Mais uma aventura aventurosa de Talia e Duna, parte 1 - Tiparis

Essa história é a continuação de " O resgate dos ricos panos ", que você também poder ler gratuitamente, é só seguir o link. Os personagens e a trama inicial foram criados em parceria com meus colegas de RPG, Tiago Perreto, Jorge Luís Ferreira Enomoto e Eduardo Capistrano. A partir de agora minha história começa a se distanciar da que nós começamos lá em 2003... Mas eu espero que Duna e Sagan nunca deixem de ser como foram criados. E vamos à aventura! --- Mais uma aventura aventurosa de Talia e Duna (título provisório, claro). Parte 1 - Tiparis Em que, inspirado pela tranquilidade matinal de nossa heroína, o leitor pode conhecer mais detalhadamente as curiosas aves que são nome e símbolo da mais próspera e agitada província do reino de Valoton. Definitivamente, a época do ano mais bonita, para Talia, é o início do verão, antes das chuvas. Nessa época, as manhãs costumam ser magníficas em Pouso das Garças. Mesmo indo dormir tarde quase todas as noites, devido ao tr